Capítulo 7 - Conclusões |
Fonte: Marcos Milani Cardoso
Imagem de Topo: Época Negócios
Edição: Ignacio Montanha
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Data: 13 de Agosto de 2010 |
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7. Conclusões
Com a abertura comercial brasileira à concorrência internacional (1991), políticas públicas de fomento ao setor e maciços investimentos foi possível à indústria automotiva nacional superar a “era das carroças” (designação “cunhada” pelo ex presidente Fernando Collor de Melo para caracterizar o parque produtivo de automóveis no Brasil do início de seu mandato, deixando inconfundível seu descompasso com relação aos demais mercados desenvolvidos).
Assim, bastante influenciado pelas políticas governamentais que privilegiaram modelos de pequena motorização (compatíveis com carrocerias compactas) e tendo a cumplicidade da boa aceitação de um mercado carente por inovação em produtos de baixo preço (como comprovado pelos números de produção e vendas que encabeçam este artigo), o Brasil se reinseriu perante a divisão internacional do trabalho do setor como produtor de veículos característicos de mercados de mais baixa renda (refletindo em uma pauta de exportações baseada em produtos de menor valor agregado e deslocada majoritariamente para mercados periféricos).
Por fim, deve-se ter cautela para não creditar a manutenção de um portfólio repleto de produtos básicos simplesmente à restrição orçamentária das famílias brasileiras, havendo para tanto grande representatividade das diretrizes tributárias ao setor (sobretudo em modelos de maior cilindrada que tem maior alíquota de IPI, nos quais os tributos federais e estaduais chegam a representar até 42% do preço do veículo ao consumidor final).
Em outras palavras, dado o contorno de incentivos, exigências e tributos conferidos pelas políticas públicas (conciliada à aceitação de um mercado há muito sem opções), a configuração atual do setor parece bastante óbvia. Não há, contudo, impeditivo para que sejam concedidos estímulos a modelos de maior cilindrada e complexidade tecnológica, ou, o que seria mais racional, pensar a concessão de benefícios de acordo com as inovações, nível de segurança, emissão de poluentes e matriz energética empregada, estimulando assim as pesquisas e avanço tecnológico do setor.
Enquanto não houver um maior planejamento para o setor (talvez por parte do desinteresse tanto do governo quanto das fabricantes enquanto os resultados estejam bastante positivos), talvez o ingresso de novas empresas (i30), mais agressivas para ganhar mercado e que ofereçam produtos com maiores diferenciais e inovações para compensar o menor respaldo da marca e ganhar mercado, force uma mudança no panorama.
A composição de majoritária produção e venda de compactos no segmento automotivo brasileiro não pode ser assim atrelada a uma simples lógica de adequação ao mercado consumidor, mas sim à falta de direcionamento (por parte das políticas setoriais) e, em grande parte em consequência disto, das próprias estratégias produtivas globais das multinacionais que optaram por fundamentar o mercado nacional.
Isto equivale a dizer que o consumidor, conforme mostrado neste artigo e refletido pelo próprio comportamento recente do mercado, parece estar ávido por novidades e responder positivamente a modelos diferenciados, com mais tecnologia e de categoria superior desde que estes sejam ofertados a preços condizentes, havendo um cenário macroeconômico favorável ao crédito e ao crescimento do emprego e de sua renda.