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Capítulo 4 - Barreiras à entrada

Fonte: Marcos Milani Cardoso
Imagem de Topo: Época Negócios
Edição: Ignacio Montanha

Data: 13 de Agosto de 2010

4. Barreiras à entrada


Além de constituir uma base à concentração permitindo o exercício de poder de mercado (formação de preços pelas empresas de forma a sustentar de elevadas margens de lucro), as barreiras à entrada são também bastante relevantes dado o ingresso recente de marcas que vem conseguindo posições importantes na disputa pelo consumidor brasileiro, havendo ainda outros entrantes que anseiam por uma voraz penetração no mercado nacional.

Descartando a remota possibilidade da ascensão representativa de uma empresa inteiramente nova e não relacionada às demais do setor (que não mediante ação direta do governo como se especulava sobre o surgimento de uma montadora nacional de veículos elétricos), considera-se aqui como potenciais entrantes empresas já com expertise técnica e mercadológica no segmento por já serem dotados de atuação consolidada em outros mercados.

Neste sentido é necessário distinguir empresas com tradição, já dotadas de respaldo da marca, expertise tecnológica e mercadológica (grandes multinacionais do setor, já atuantes em diversos países com um portfólio amplo, bem estruturado e aceito) das montadoras (sobretudo chinesas) ainda em ascensão que ainda experimentam os primeiros revezes de uma atuação fora do país de origem (perante mercados mais exigentes e que enfoquem atributos diferenciados, sendo notável recente reprovação de modelos chineses em testes de segurança e qualidade europeus).

Ademais, as entrantes mais tradicionais (Hyundai, Kia) e com mais expertise acumulada não devem enfrentar tamanha resistência tecnológica, ao passo em que empresas com menor prestígio e experiência devem não apenas dirigir esforços para quebrar a barreira ideológica (receio do consumidor) com relação a novos produtos (sobretudo em se tratando de algo de um bem de consumo durável de representativo peso na cesta de consumo do brasileiro), mas também ainda procurar melhores processos, tecnologias e até mesmo fornecedores de qualidade, dadas as reprovações e baixas notas em testes de segurança e durabilidade.

Serão abaixo analisadas algumas potenciais barreiras econômicas à entrada posto que, de imediato é importante assinalar que não há barreiras institucionais visto que as novas entrantes são submetidas ao mesmo rigor técnico (sobretudo no que tange às normas de segurança e emissão de poluentes) que as já estabelecidas, inexistindo qualquer discriminação formal que dificulte ou impeça a sedimentação de novas empresas automotivas no país.


4.1. Diferenciação de produto:

A diferenciação aqui retratada como uma potencial barreira à entrada é aquela que busca criar, na concepção do cliente, a percepção de vantagens (reais ou informacionais) de uma marca sobre as demais. Trata-se do mais efetivo empecilho ao ingresso de novas empresas tanto no que tange aos tempo de desenvolvimento tecnológico e altos custos da diferenciação e adequação do produto a determinado mercado (desenho da carroceria, cores, número de portas, tipo de modelo, acessórios, estratégia de precificação, sendo necessário entender a racionalidade da compra no mercado alvo), montagem de estrutura de venda e pós venda adequada (concessionárias, rede de assistência técnica, disponibilidade de peças), além do que talvez seja o ponto mais nevrálgico nesta perspectiva: sedimentar uma marca que simbolize confiabilidade e respaldo na percepção do consumidor.

Neste prisma, um fator de extrema relevância para o mundo competitivo oligopolista é, indubitavelmente, o fator da propaganda, sendo que setor automotivo compreende parte relevante dos gastos em propaganda no mundo inteiro (sendo o setor predominante nos EUA).

Conforme já adiantado no início deste item, nota-se que a eficácia do impedimento à entrada baseada em diferenciação de produtos é bastante reduzida ou anulada quando a empresa entrante é subsidiária de uma empresa que detém produtos ou marcas conceituadas em mercados de outros produtos (empresas em diversificação) ou regiões (transnacionais) devido à transferência de credibilidade (efeito transbordamento - spill over).


4.2. Economias de escala

A despeito de claros ganhos de escala na produção automotiva, não parece razoável encarar as escalas eficientes requeridas como restrições à entrada já que, primeiramente, estas não são de grande representatividade quando considerado o tamanho do mercado nacional de veículos (as fábricas da Hyundai e da Toyota irão trabalhar com uma produção anual de 150 e 70 mil unidades, respectivamente, bastante reduzidas quando pensadas as estimativas de produção de aproximados 3,5 milhões de unidades para 2010). Em segundo lugar, a estratégia de penetração das entrantes tem se dado comumente por iniciar importando alguns modelos (para testar a aceitação do mercado), o que, a despeito do elevado imposto de importação (35%) ainda tem possibilitado a inserção dos novos produtos em real condição de competição com relação aos modelos nacionais até que se tenha garantido uma fatia de mercado que viabilize investimentos em uma planta produtiva local.


4.3. Vantagem absoluta de custos (barreiras de custos)

Não havendo expressivos benefícios de localização, acesso privilegiado a insumos ou mão de obra que não possam mais ser aproveitados, a maior vantagem em termos de custo seria aquela potencialmente oriunda de benefícios que privilegiassem as empresas há mais tempo instaladas. Contudo, sendo os estímulos ao mercado automobilístico nacional majoritariamente fruto de políticas setoriais (extensivos a todas as montadoras aqui instaladas), e tendo as novas empresas conseguido benefícios tributários para a montagem das novas instalações (tal como concedido às já estabelecidas), pode haver apenas prejuízo às empresas que não consigam ofertar veículos nas configurações (de cilindrada e combustível, por exemplo) compatíveis às categorias incentivadas.


4.4. Elevados requisitos de capital inicial

Analogamente ao que ocorre no âmbito técnico e tecnológico, a composição do setor automotivo por grupos e empresas de maior porte em diversificação também ajuda a driblar limitações de capital. Possibilidades de captação e alavancagem a partir de diferentes mercados para empresas já estruturadas (mais elegíveis a linhas de crédito especiais), fazem assim com que os requerimentos elevados de capital inicial não representem uma importante barreira ao ingresso destas novas empresas.




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