A Fábrica Transparente da Volkswagen |
Edição: Ignacio Montanha
Imagem de Topo: Arved Kloumberg
Imagens: Divulgação VW
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Data: 04 de Junho de 2006 |
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É na cidade de Dresden - Alemanha, onde está instalada uma das mais importantes estruturas da Volkswagen: a Fábrica Transparente.
A fábrica, harmoniosamente integrada nesta cidade alemã banhada pelo rio Elba, se combina o rigor da produção industrial com o processo clássico da produção manual, na qual existe uma profunda intervenção da mão humana e outro fator de originalidade reside no fato dos clientes poderem acompanhar ao vivo, os processos individuais de produção.
Foram investidos 186 milhões de euros na fábrica transparente, localizada na capital da Saxônia. Diariamente, cerca de 800 funcionários produzem um máximo de 150 unidades do modelo de luxo da Volkswagen, o Phaeton, mas também são produzidos os Bentley Continental GT e Flying Spur. A instalação de fornecedores e outras empresas prestadoras de serviços criou cerca de 300 postos de trabalho adicionais. A cidade conta, anualmente, com mais 20 milhões de euros nas suas receitas fiscais, segundo as estimativas, devido à presença desta.
O compromisso assumido pelo maior construtor de automóveis europeu para com a cidade é extremamente abrangente. Juntamente com a instalação da fábrica na cidade, foi criado um novo sistema logístico, utilizando a rede ferroviária da cidade, diversas composições especiais, transportando componentes pré-fabricados, efetuam constantemente a ligação entre o centro logístico de Friedrichstadt (situado nos limites de Dresden) e a fábrica transparente.
Com acesso às novas tecnologias de comunicação e informação, visitantes e clientes conhecem todos os detalhes sobre a marca, os novos modelos de luxo da marca e outros detalhes. Os clientes que escolherem acompanhar a produção de seu veículo diretamente na fábrica, são recebidos num local específico da área destinada aos eventos, onde, através de um circuito interno de TV, podem acompanhar a montagem do seu novo automóvel ou conhecer a diversos sistemas de informação e entretenimento. A entrega do Phaeton ao seu proprietário é um evento especial, que tem lugar numa sala VIP.
A zona destinada aos eventos cobre uma área total de 15 mil metros quadrados, incluindo um resturante. Também a seção externa, com 50 mil metros quadrados, se apresenta harmoniosamente integrada à cidade e aos jardins botânicos. Na àrea que circunda a fábrica foram investidos mais de 6 milhões de euros.
Com um formato em L, a fábrica transparente de Dresden está implantada numa propriedade com 8.3 hectares, em Strassburger Platz, apenas a 100 metros de distância dos jardins botânicos. Assim, o Phaeton é produzido por detrás de uma estrutura em vidro com 27 500 metros quadrados e três andares. No total, a área de produção da fábrica ocupa 55 mil metros quadrados, apresentando uma arquitetura moderna e atraente. Virada de frente para a cidade, o edifício caracteriza-se por linha angular totalmente envidraçada, com um comprimento exterior de 140 metros e uma altura de 20 metros. Mesmo para quem passa ou reside nas proximidades das instalações, o ruído da fábrica é praticamente imperceptível.
Os responsáveis pelo projeto de construção prestaram particular atenção à proteção do ambiente, assim, foram plantadas 350 árvores, com um custo de 56 mil euros e introduzido um sistema de iluminação especial, com luzes de vapor de sódio, cujo espectro luminoso amarelo não perturba os insetos nos jardins botânicos vizinhos.
Por outro lado, as fundações do edifício foram concebidas de forma a não provocar qualquer desequilíbrio na água existente no subsolo, enquanto a área construída é agora de 4,8 hectares, uma redução 1,9 hectares em relação à construção anteriormente existente no local. Todos os componentes para a produção do Phaeton, com exceção dos painéis da carroçaria, são transportados em vagões, sendo assim, o número de caminhões no trânsito da cidade não sofre um grande aumento.
Strassburger Platz - O passado e o futuro
Já no século XIX, a propriedade onde está agora instalada a fábrica transparente de Dresden estava altamente desenvolvida, até à sua destruição na II Guerra Mundial. Em Strassbruger Platz funcionou o palácio de exposições da cidade, ( Kugelhaus), infelizmente desaparecido durante o período do comando do Terceiro Reich.
Neste local, a arte, a cultura surgiam de mãos dadas com novos conceitos de horticultura e arquitetura, apresentando novas propostas que eram apreciadas internacionalmente. Formando uma ligação com o passado, uma área específica da fábrica dedicada à informação e entretenimento, relembrando o conceito do antigo Kugelhaus. O símbolo da fábrica transparente, visível à longa distância e está montado numa torre de vidro com quase 40 metros de altura, na qual ficam estacionados os veículos já prontos. É aqui, na chamada "ponte de entrega", que os Phaeton deixam a fábrica transparente de Dresden conduzidos pelos seus proprietários.
O design interior da fábrica revela o mesmo conceito de inovação que ocorre na arquitetura exterior. As enormes superfícies envidraçadas e os 24 mil metros de pavimento em madeira parquet (incluindo linha de produção), criam uma atmosfera agradável e luminosa, criando o ambiente ideal para a realização de dois estilos distintos de trabalho: a produção criteriosa e atenta do trabalho executado à mão e os processos sofisticados da moderna produção industrial automatizada, que é realizada em corredores em madeira no lugar de tapetes rolantes.
A designação "fábrica transparente de Dresden" representa um conceito de produção totalmente novo. A entrega dos componentes para a produção dos veículos é efetuada separadamente no centro logístico de Friedrichstadt, sendo assegurada por outras fábricas do grupo e fornecedores externos. Dois trens de mercadorias (CarGoTram) com 60 metros de comprimento, fazem a ligação entre o centro logístico e a fábrica e vice-versa. Para estas viagens, cada uma com a duração de 18 minutos, o sistema de transporte utiliza a rede ferroviária dos transportes públicos da cidade.
A empresa (Schalker Eisenhütten Maschinenfabrik), sediada em Gelsenkirchen, desenvolveu os veículos para transporte de mercadorias especificamente para a utilização em Dresden. A sua construção demorou cerca de um ano, tendo cada trem, cuja velocidade máxima é de 50 km/h e custado cerca de 1,8 milhões de euros. Os (CarGoTram) entregam os componentes no regime "just-in-time", utilizando o piso inferior da fábrica, onde está localizada a logística. Os painéis da carroçaria, fabricados pela Volkswagen na planta de Mosel, são transportados por caminhões e ficam temporariamente armazenados numa parte específica, cujo formato se assemelha a uma caixa gigante.
Sistema logístico eficaz
A partir do piso inferior, todas as peças e componentes destinados individualmente a cada veículo são transportados em caixas de componentes (como pode ser visto na quarta foto abaixo). Durante o processo de montagem, cada carroceria é acompanhada pela sua caixa de peças. Este sistema tem a vantagem de não implicar viagens desnecessárias, pois as peças e componentes não ficam armazenados em prateleiras ao longo da linha de produção como da forma convencional.
O sistema de transporte sem condutor (Driverless Transportation System - DTS) tem ainda mais funções vantajosas para o processo produtivo do Phaeton, um dos melhores exemplos da utilização do DTS tem lugar na "acoplagem" do monobloco com o conjunto chassis e mecânica. Os componentes do chassis do veículo (rodas, suspensões,freios, etc), juntamente com a transmissão, motor e sistema de escape, são totalmente montados no piso inferior da fábrica. O DTS encarrega-se de transportar autonomamente este impressionante conjunto, com 4,5 metros de comprimento e cerca de 1100 kg de peso, utilizando um elevador em vidro para chegar ao segundo piso da fábrica, posteriormente este módulo é acoplado ao monobloco na linha de produção, um processo apelidado de "casamento" na gíria da indústria automotiva.
Tapete rolante substituído por madeiras nobres
O principal elemento da nova linha de produção é o corredor em madeira, cuja única semelhança com o tapete rolante convencional está no rigoroso controle do tempo das fases de montagem. Este controle está relacionado com a subdivisão da produção em "estações", como o "casamento" e a montagem dos vidros (janelas, pára-brisas e vidro traseiro). A superfície do corredor em madeira é formada por 29 ligações individuais, sendo cada uma revestida em madeira. Neste local, os veículos por montar são deslocados através de plataformas elevatórias multi-ajustáveis.
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Na fábrica transparente, os veículos são montados em dois níveis, para, por um lado, estabelecer a ligação vertical entre os dois pisos e, por outro lado, abastecer (no pano vertical) a linha de produção, foi instalado um corredor superior (Overhead Conveyor System - OCV) paralelo ao corredor em madeira. Através deste sistema de corredores de transporte, os veículos são transportados para o outro piso e para outros pontos do processo de montagem, onde se realizam operações como, por exemplo, o abastecimento de combustível. Neste caso, o veículo é transportado inteiro e suspenso, através do teto do edifício, do piso 2 para o piso 1, sendo depois levado para o chão numa plataforma especial.
Graças à subdivisão em ciclos de montagem, aos trabalhadores altamente especializados e ao constante e rigoroso controle de qualidade, a Volkswagen alcança, em Dresden, um nivel de qualidade de produção pela primeira vez alcançado por um automóvel da marca.
Os ciclos individuais de produção foram otimizados em função das pessoas que trabalham na fábrica. O "controlador", por exemplo, é um sistema de assistência móvel, sob rodas, a quem os funcionários recorrem para alinhar grandes peças, como o painel de instrumentos e o painel completo, antes destes serem montados no interior da carroçaria.
Fase final e atendimento ao cliente
Na fase final do processo de produção, os veículos são transportados pelo corredor superior, passando para o piso central, onde são novamente colocados no corredor de madeira. Começam então os acabamentos. Seguem-se mais controles de qualidade, um teste dinâmico na pista de testes e um teste de vedação. Assim que todos os testes e diversos controles de qualidade forem completados com sucesso, os Phaeton são transportados através do piso central, para o departamento de vendas, que se encarrega da expedição dos veículos para todo o mundo, ou da entrega direta aos clientes que deslocam pessoalmente à fábrica, que recebem os seus automóveis na sala VIP existente na área de eventos.
Percorrendo a área central, clientes e visitantes chegam à zona de eventos, onde são envolvidos num mundo moderno e urbano que aproxima a tecnologia e a cultura de uma forma interessante. As áreas de descanso convidam os visitantes a relaxar, mas proporcionam também um elevado grau de informação sobre a marca, existe também um restaurante de elevada categoria, que dispõe de um generoso terraço ao ar livre.
Atrás dos portões da fábrica, a original "bola visionária" capta rapidamente as atenções. Com 12 metros de diâmetro e localizada na entrada da zona de eventos, esta estrutura pode ser vista por dentro, interior da bola inclui uma plataforma multimídia. Terminais interativos proporcionam o mais variado tipo de informação em termos de arte, cultura e atividades comerciais, bem como notícias atualizadas provenientes de todo o mundo, neste aspecto, a fábrica de Dresden torna-se também ser um local de informação e convívio.
O percurso leva os visitantes para uma área de exposição, onde sao exibidos os veículos provenientes da linha de produção, seguindo, decorre o chamado processo virtual de visualização da produção dos veículos; aqui, os futuros proprietários do modelo de luxo da Volkswagen dispõem de informação à respeito da montagem e dos veículos.
Um dos pontos mais interessantes para qualquer visitante é o simulador, que permite ao visitante tornar-se num piloto-de-testes que dirige o Phaeton num percurso de teste virtual; o jogador conduz um modelo real através de um mundo projetado à frente do veículo por sete computadores.
Especialmente para os que pensam incluir o Phaeton nos seus planos de aquisição para o futuro, está disponível um sistema de configuração integrado no maior monitor interativo do mundo (2 metros de largura por um 1 metro de altura), que permite visualizar instantaneamente o interior do veículo.
Um serviço especial foi criado para os clientes que optam retirar o seu Phaeton diretamente na fábrica. Numa área reservada para a situação, cada cliente tem ao seu dispor um funcionário do serviço de apoio que lhe presta toda a informação e logística. Além de uma visita guiada pela linha de produção e de uma explicação detalhada do veículo, o funcionário de apoio trata de todos os detalhes relativos à estadia do cliente em Dresden. Ao montar este serviço altamente especializado e personalizado, garante-se a atenção prestada ao cliente acima de qualquer outro fator, garantido a sua total satisfação.
Na sala destinada aos clientes, o apoio individual inclui serviços comercial e pessoal especializados na descrição técnica do veículo, cuja missão é também de prestar todo o tipo de esclarecimentos relativos às inúmeras funções disponibilizadas pelo Phaeton.
Após algum anos desde a criação da fábrica de vidro, o Phaeton não obteve as vendas esperadas, afinal em segmentos de nicho como esse, a imagem de marca vale muito, mas é certo que foi um grande passo para a VW em sua caminhada ao segmento premium, iniciada na gestão de Ferdinand Piëch.
A Audi na década de 80, sob o comando do mesmo Piëch, a idéia de se acelerar o processo migração para o segmento premium, para competir de forma igual com mercedes e bmw, foi colocada em prática, assim surgiu em 1988 o Audi V8, o motor, explicando de forma simples era algo com dois motores "KR" 4 cilindros 1.781cm3 16v usados no Golf e Scirocco GTi entre outros, montado em V, com 3.6 litros e 250 cv, assim a Audi teve o que poderiamos chamar de a 1ª Geração do A8. Posteriomente em 1990 surgiu a versão longa e em 1991 a cilindrada foi aumentada para 4.2 litros e 280 cv, mas novamente o problema de uma imagem inferior às concorrentes, não permitiu o êxito comercial. Em março de 1994 surge o A8, totalmente em alumínio com o inovador conceito de estrutura ASF (Audi Space Frame) ao inves do monobloco convencional, o resultado dessa insistência, foi melhor que o primeiro. afinal já havia diminuído o receio de clientes de veículos desta categoria. Mas foi apenas recentemente, cerca de 20 anos depois que a marca conseguiu se estabelecer no segmento premium com igualdade, ainda que BMW e Mercedes-Benz tenham mais status e tradição..
Portanto, muitas vezes nos deparamos com informações de especializadas citando as vendas do Phaeton como um fracasso, é certo que não é nenhum sucesso, mas a escalada da marca deveria ser tratada como uma medida a longo prazo, até que a Volkswagen consiga elevar sua imagem de marca em nível semelhante ao das concorrentes alemãs, da mesma forma que Piëch fez com a Audi, mas isto só o tempo dirá.
Atualmente Ferdinand Piëch faz parte do conselho superior e o CEO da VW é Bernd Pischetrieder, que antes havia ocupado mesmo cargo, na BMW. Apesar dos baixos números de vendas, existem rumores sobre uma segunda geração do Phaeton.
Dados da Fábrica transparente de Dresden:
- Área total: 83 mil metros quadrados
- 27 500 metros quadrados de janelas
- 24 000 metros quadrados de madeira parquet
- Investimentos em áreas verdes: 6.14 milhões de euros
- Investimentos em transportes logísticos: 6.65 milhões de euros
- Volume total de investimento: 186.62 milhões de euros
- Produção diária de veículos: 150 (capacidade máxima)
- Funcionários: 800 (capacidade máxima)
- Postos de trabalho externos: 3000 (capacidade máxima)
- Aquecimento sob o piso: 2500 metros quadrados
- Corredores em peças de madeira parquet: 5000 metros quadrados
- Lagos exteriores: 6500 metros quadrados
- Área de eventos: 15 000 metros quadrados
- Piso revestido em madeira parquet: 24 000 metros quadrados
- Área envidraçada: 27 500 metros quadrados
- Área ajardinada: 30 000 metros quadrados
- Área de produção: 55 000 metros quadrados
- Área da propriedade: 83 000 metros quadrados
- Volume das escavações para as fundações: 200 000 metros cúbicos
- Dimensões das chapas de metal: 150 x 150 x 1,1 metros cúbicos
- Plantas aquáticas: 3500
- Pontos de regagem automática: 17 500
- Estruturas em aço: 18 000 toneladas
- Estruturas em cimento: 60 000 toneladas
- Condutores de ar: 7000 metros
- Tubos: 49 000 metros
- Cabos e condutores de energia e telecomunicações: 250 000 metros
- Circulação de ar: 1,3 milhões de metros cúbicos por hora.