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Anti-Ricer League

Texto: Ignacio Montanha / Felipe Bitu

Data: 20 de Maio de 2004

Antes de mais nada, vamos esclarecer uma coisa: a Anti-Ricer League não tem como objetivo excluir nenhum proprietário de carros japoneses, como muitos podem pensar.  

Muito pelo contrário: os proprietários de Hondas, Mitsubishis, Subarus, Toyotas, Hyundai, Kia e outros asiáticos são bem-vindos à Anti-Ricer League.  

 

Mas vamos ao que interessa: O que é um Ricer ou Riceboy ?

Ricer vem de “rice”, que na língua inglesa significa “arroz”. Como todos sabem, o Japão é um país que poderia importar todo o arroz que consome por apenas uma fração do custo que eles têm produzindo este nutritivo cereal. Mas não importa o quanto custe, os japoneses fazem questão de ser auto-suficientes em arroz, sendo possível ver plantações de arroz até mesmo em Tóquio, um dos metros quadrados mais caros do mundo e que exige prédios cada vez mais altos para justificar o investimento.

E ainda assim eles usam esses terrenos para plantar arroz... Cada louco com sua mania.

Pois bem, todos conhecem muito bem a história: há 30 anos, em 1973, primeira crise energética, a OPEP acabando com o mundo aumentando o preço do barril de petróleo. O mercado norte-americano, acostumado a banheiras de 2 toneladas com motor V8, rapidamente se viu atraída por carros mais racionais, de baixo peso, melhor desempenho, boa dirigibilidade e consumo moderado: começava a invasão dos carros japoneses.

Em pouco tempo, a molecada que sempre andou com a grana curta acabou abandonando os V8 por um tempo e começaram a pipocar peças especiais e preparadores dedicados aos carros japoneses. Estava criada a primeira geração de “ricers”, ou “comedores de arroz”...

O mercado norte-americano é o maior e mais vasto do mundo, notório pelo consumismo desenfreado. Logo, qualquer porcariada que você colocar no mercado vende pelo menos o necessário para retornar seu investimento inicial. E tudo que vende bem (como carros japoneses) pode ser melhorado, equipado, embelezado. Estava criada a febre da personalização nos EUA.

 

Curiosamente, na mesma época os europeus criavam o “tuning”, modificando seus carros para obter um melhor desempenho. Ao longo dos anos, foram desenvolvidos inúmeras peças, acessórios e equipamentos de alta performance, principalmente na Alemanha, berço de algumas das maiores competições automobilísticas e com autobahns sem limite de velocidade, criando o “habitat” ideal para carros de altíssimo desempenho.

Em pouco tempo o “tuning” foi parar nos EUA também... Mas para desgraça dos amantes da alta performance, em pouco tempo misturaram o Tuning (agora com “T” maiúsculo e sem aspas) com personalização (Styling).

 

 

Foi como cruzamento de minhoca com porco-espinho: deu arame farpado... E dos piores, pois hoje são poucos aqueles que sabem diferenciar o Tuning da personalização, que chega a extremos de mau gosto conhecidos como “Xuning”.  

E onde é que os Ricers entram nesta história? Vamos explicar: “Ricer” não é o proprietário de carro japonês, mas um estilo de vida.

Um “riceboy” pode muito bem ter um carro da VW, da Fiat, Ford ou GM... O que faz dele um “ricer” é o seu comportamento e atitudes, não a sua origem ou a marca do seu carro.  

 

Ricer é toda pessoa que:

-          Usa coletor de escape 4x1 só pra fazer barulho.

-          Gosta de falar que seu motor gira até 10.000, embora troque as marchas a 3.000.

-          Coloca um sistema de som que pesa 1 tonelada e prepara o motor do carro só pra carregar este peso extra.

-          Gasta dinheiro em asa, neon, angel-eyes e todo tipo de inutilidade pra andar com o motor original.

-          Acha um tesão rodas de aro 18, 19 ou 20, mesmo sem saber que rodas grandes foram criadas para acondicionar discos de freio igualmente grandes, não aquele disco original que parece um CD.

-          Anda com o carro tão rebaixado que rasparia até no carpete da sala.

-          Tem um carro tão emperiquitado que não faria feio num desfile de escola de samba.

-          Gosta de ver uma ponteira de escapamento maior que a cabeça do seu filho.

-          Acha que quanto mais negativa a cambagem das rodas, melhor será a estabilidade.

-          Coloca uma asa na traseira do carro maior que a tábua de passar roupa da avó.

-          Seu painel tem mais relógios que um avião DC-10, mesmo com o motor original.

-          Anda com o farol de neblina ligado quando não há neblina, atrapalhando todo mundo, só porque “fica mais style”.

-          Não sabe como conseguiu viver até a invenção das lanternas transparentes tipo cristal.

-          Possui mais Watts no sistema de som do que no motor. (lembrando que 1 hp = 745.7 Watts)

-          Gastou os tubos num filtro de ar esportivo, num chip remapeado e escape 4x1 e continua apanhando de carros originais.

-          Manda instalar um “turbo virtual” pq acha maneiro carro que espirra, e falar que o carro ta gripado.

-          Acha que pode andar com motor original e 1000 cavalos de nitro.

-          Acha que potência é muito mais importante do que torque.

-          Acha legal ter um volante da "Chutte", mesmo sabendo que eles se despedaçam em caso de acidente.

-          Coloca 4 ponteiras de escape na traseira, uma pra cada cilindro.

-          Enfia um adesivo embaixo do outro na porta do carro, geralmente de fabricantes de peças caras que não pode comprar. E quanto o espaço na porta acaba, coloca um adesivo atrás do outro na “saia lateral”. As famosas colunas de adesivos de patrocinadores que eram usadas na Nascar, depois apareceu no "Crap and Furious" e virou febre, moda.

-          Anda com o banco lá atrás, ficando com a cabeça p/ trás da coluna central, pra poder dirigir com os braços esticados, “que nem piloto de Fórmula 1”.

-          Fala pros outros que o seu carro tem mais de 200 cavalos, mesmo sem nunca ter visto um dinamômetro ou um TT..

-          Coloca néon ou luz negra dentro do carro e dentro do cofre do motor.

-          Sai falando que seu carro faz 0 a 100 Km/h em 7 segundos, faz 25 Km/l na estrada e supera os 250 Km/h.

-          Coloca pára-choques e saias que simulam o carro rebaixado “ground effect” de dimensões enormes, muitas vezes com o carro na altura original.

-          Corta as molas e anda com o carro pulando e sofrendo para fazer uma curva que era feita sem problemas antes da gambiarra.

-          Pinta os tambores de freio de vermelho.

-          Acha lindo montar um sistema de som com 1000 tweeters e cornetas, mas com nenhum sub-woofer pra ouvir rap comercial norte-americano no volume máximo, mesmo não sabendo uma palavra do que está ouvindo.

-          Tem um carro de 100.000 reais, mas ainda mora com os pais

-          Usa adesivos estilo “Velozes e Furiosos” e acha o maior barato, mesmo sabendo que eles parecem com aquelas faixas refletivas de caminhões.

-          Seu carro ronca como se estivesse a 140 e você mal passou dos 60 apesar de já estar quase no final da terceira marcha.

-          Coloca uma coluna de instrumentos e o carro continua com o motor intacto

-          Manda “trancar” seu carro no filme G5, mesmo sabendo que durante a noite vai ter o mesmo efeito de dirigir com óculos escuros.

-          Sua lista de modificações inclui volantes Momo, lâmpadas azuis, bancos Sparco, um abafador esportivo com uma saída gigante, mas sem modificação alguma no motor do veiculo.

-          Se o seu aerofólio é mais alto que você.

-          Se o abafador de inox é a modificação mais cara que você realizou no motor.

-          Se você acha que um ronco grave de abafador esportivo significa alta performance.

-          Se você usar simulador de disco de freio ou calotas maiores que o aro da sua roda, porcamente parecendo um pneu perfil baixo.

-          Usa um conta-giros “monster” de 15 polegadas, com escala pra 20.000 rpm em um motor que desbiela a 6000 rpm.

-          Fica acelerando o carro no semáforo até pra Kombi de transporte escolar.  

-     Usa entradas de ar falsas.

-          Manda instalar outra bateria pra poder suportar néon, angel-eyes, sistema de som e reloginhos; mas interior do carro, mesmo sabendo que se o respiro da bateria for obstruído ela pode explodir.

-          Se você faz tudo isso e se acha o Rei das Ruas.

 

 

Deixando a brincadeira de lado, existe também uma certa preocupação com a segurança, pois um Riceboy, normalmente um garoto recém-habilitado que raciocina com a cabeça de baixo, tem toda a confiança do mundo, rodando em altas velocidades por qualquer lugar como se fosse natural, um tanto perigoso se considerarmos que as modificações baratas tipo “quebra galho” como molas cortadas e coisas do tipo são as mais usadas, na maioria das vezes as modificações são feitas em carros de entrada das marcas e sem critério algum, ou seja, não oferecem segurança; no Brasil os 1.0 dominam o ranking, em alguns casos o proprietário coloca um kit turbo num motor que é mais fraco que o de uma maquina de lavar, com um cambio que não suporta mais que 15 kgmf de torque, as suspensões desprovidas de barras estabilizadoras, molas cortadas (socado, pregado), rodas gigantes aumentando o atrito e a inércia do veículo desnecessariamente, discos de freio sólidos com fluido dot 3 e pastilhas originais, e tudo que você possa imaginar. Uma verdadeira cadeira elétrica, considerando a falta de segurança, o peso do equipamento sonoro e o arrasto causado pelos enormes pára-choques e saias, que deixam o seu carro digno de um episódio do Dragon Ball Z.




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